sábado, 25 de junho de 2011

Humanos chegaram à América por mar há 18 mil anos, diz estudo brasileiro

Foto: ReproduçãoPesquisa usando DNA de índios modernos vê indícios de migração única para o continente.
Ancestrais de indígenas teriam passado milênios isolados antes de cruzar o Pacífico.

Pesquisadores brasileiros usaram o DNA de indígenas de norte a sul da América para traçar um novo quadro da chegada dos seres humanos ao continente. Segundo os geneticistas, tudo indica que esses povos colonizaram as terras americanas numa única grande onda de migração, que teria aproveitado a costa do Pacífico como estrada para se espalhar do Alasca à Patagônia.
De acordo com os dados genéticos, essa grande jornada pode ter começado há 18 mil anos, momento em que a população ancestral de todos os índios vivos hoje começou a se expandir. A pesquisa questiona a idéia de que duas ou mais migrações separadas teriam sido responsáveis por dar origem às tribos indígenas de hoje, conforme sugeriam alguns dados lingüísticos e anatômicos.

  Mitocondrial 
No trabalho, que será publicado na edição do mês que vem da revista científica "The American Journal of Human Genetics", os pesquisadores examinaram um tipo especial de material genético, o mtDNA ou DNA mitocondrial. Presente apenas nas mitocôndrias, as "centrais energéticas" das células, o mtDNA, em geral, só é transmitido de mãe para filho ou filha -- não se mistura com o DNA paterno. Por isso, funciona como um registro ininterrupto dos ancestrais maternos de uma pessoa, modificando-se apenas por mutações.
Acontece que é possível classificar praticamente todos os indígenas vivos em cinco grupos de mtDNA, batizados com as letras A, B, C, D e X (esse último bem mais raro nas Américas). Variantes desses mesmos grupos estão presentes no nordeste da Ásia, em especial na Sibéria, mas o X é raríssimo lá e aparece também (em proporções baixas) na Europa. Ficava no ar, portanto, a dúvida sobre a origem de todas essas variantes -- alguns sugeriam que mais de uma migração teria sido necessária para criar esse quadro variado.
Para tentar acabar com a dúvida, o que equipe fez foi obter dados sobre o mtDNA de 86 índios atuais, de guaranis e caiapós do Brasil a maias e navajos da América Central e do Norte. Usando métodos estatísticos, eles reconstruíram a árvore genealógica de cada linhagem de mtDNA. O resultado é que todas têm uma história muito parecida e possuem um ancestral comum (uma "bisavó" A, B, C, D e X) que remonta exatamente à mesma época.
"Ao que tudo indica, todos os grupos estavam presentes na população ancestral que deu origem aos ameríndios", explicou ao G1 Sandro Bonatto, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e co-autor do estudo. É um sinal de que eles teriam invadido o novo continente em bloco, e não separados.

  Estica e puxa
A análise também revela outros detalhes interessantes. Há pouco mais de 20 mil anos -- época que coincide com o derradeiro momento de frio extremo da Era do Gelo, o chamado Último Máximo Glacial --, há uma redução populacional envolvendo os ancestrais dos indígenas. Depois, a partir de 18 mil anos atrás, vem um forte aumento da população (de cerca de cem vezes) que se estende até 15 mil anos antes do presente.
Para Bonatto, isso significa que, durante alguns milênios, a população ancestral se viu presa na chamada Beríngia, antiga faixa de terra que unia a Sibéria à América. "A Beríngia estava isolada entre grandes geleiras do lado da América e geleiras menores, mas que também serviam de barreira, do lado siberiano", explica ele. "Era um refúgio, mas o Último Máximo Glacial certamente levou à diminuição dessa população."
No entanto, a expansão populacional iria bater de cara nas placas de gelo que cobriam boa parte da América do Norte se viesse por terra. É por isso que os pesquisadores apostam numa rota costeira para a migração. Afinal, a região do Pacífico estava livre de gelo nessa época. Os colonos teriam se espalhado (relativamente) rápido pela costa, a julgar pelo sítio arqueológico de Monte Verde, o mais antigo do continente, que fica no extremo sul do Chile, a algumas dezenas de quilômetros do Pacífico.
O trabalho também contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da USP, da Universidade Federal do Pará e da Universidade Federal do Paraná.
Reinaldo José Lopes  G1

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